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O idioma nacional, do professor Antenor Nascentes, em bela edição da Livraria Acadêmica.
Esta resenha de Rui Facó sobre o livro de Antenor Nascentes foi publicada no semanário Novos Rumos, Rio de Janeiro, semana dia 17 a 23 de março de 1961.

Pode um leigo escrever sobre uma obra especializada? Sim, quando essa obra especializada é feita com tal maestria e simplicidade que se torna acessível também ao leigo.

É o caso de O idioma nacional, do professor Antenor Nascentes, em bela edição (3ª) da Livraria Acadêmica.

Temos nesse volume de cerca de 300 páginas uma gramática, um excelente estudo da língua portuguesa e apêndices preciosos que servem a todos para dirimir dúvidas.

Assim como depois do ginásio, na idade madura, nos conciliamos com os Lusíadas e lhes descobrimos verdadeiros mananciais de beleza poética que dura análise sintática nos ocultava, assim com a exposição clara e precisa do professor Nascentes nos conciliamos com a gramática e ela nos parece fácil e suave.

Isto acontece, creio, devido ao fato de tratar-se de um cientista da língua e não um gramatiqueiro. Além disso, Antenor Nascentes parte da compreensão de que é o povo que faz a língua e os filósofos lhe dão as normas essenciais. Em outras palavras, de que a língua é uma coisa viva e um fenômeno social, não podendo ficar presa a regras imutáveis; de que a língua, instrumento necessário de contato entre os homens, evoluindo com a evolução do pensamento, deve necessariamente acompanhar o progresso da ciência e da técnica, o progresso do povo a que serve de instrumento de comunicação, e portanto modificar-se constantemente.

Daí a ausência de qualquer dogmatismo nos ensinamentos deste mestre da nossa língua. Para mim, pelo menos, foi um encanto ler em O idioma nacional, aceita pelo Autor, a afirmativa de Silvio Romero – " com a largueza de vistas que o caracterizava", ao receber Euclides da Cunha na Academia Brasileira de Letras, "que preferia os escritores que colocassem bem as idéias, aos que colocassem bem os pronomes" (p.153). Refere-se ainda o professor. Nascentes à "exagerada importância que se dá à colocação dos pronomes". É uma prova de que o professor Nascentes não é um fanático da gramática, mas leva em conta as características do português no Brasil, sem naturalmente cair no exagero oposto de pretender que não falamos o português, mas o brasileiro. A este respeito a posição do autor fica bastante clara nas páginas dedicadas ao português do Brasil, onde são acentuadas as diferenças mais flagrantes em relação ao português da Europa. Quanto a certas expressões portuguesas de Portugal, adverte o Prof. Nascentes: "Um brasileiro não fala assim; não deve, por conseguinte, escrever desta maneira, embora do ponto de vista do português esteja muito certo" (p.171).

Outra característica a destacar no livro de que falamos é que, ao contrário de muitos filósofos, o professor Nascentes costuma citar opiniões de outros estudiosos da língua, não pretendendo ser o único certo.

O idioma nacional é, por estas e outras qualidades – gramática e sociologia da linguagem — contribuição valiosa ao bom conhecimento da língua portuguesa. Gerações de brasileiros têm aprendido a língua portuguesa materna com Antenor Nascentes. Na medida em que o povo brasileiro se libertar do analfabetismo, que ainda acorrenta mais da metade da nossa população, saberá valorizar cada vez mais este estudo de paciência e erudição que é O idioma nacional.


FONTE: ACERVO DE ANA FACÓ, BEBERIBE-CE. DIGITADO POR LUÍS-SÉRGIO SANTOS COMO PARTE DA PESQUISA PARA O LIVRO RUI FACÓ — UMA BIOGRAFIA